Uma Questão de Afinações
Por vezes sou demasiado crítico e posso pecar por um excesso de perfeccionismo, algo que pode ser contraproducente. Por um lado faz com que acabe por demorar demasiado tempo a concluir alguns projectos por preocupações que para outros julgam desnecessárias, depois existe o risco de afugentar os colaboradores, mas é um risco que por vezes vale a pena correr. “Um dia” é uma história que acaba por reflectir o meu sentido crítico e o meu pior pesadelo - assim com de qualquer argumentista - um desenhista que faz alterações sem aviso prévio ou qualquer consulta.
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"Um Dia" a versão inicial e versão final. |
A Daniela Viçoso efectuou pequenas alterações na planificação das pranchas, a principal alteração foi ter optado por colocar o texto fora das vinhetas, isso resultou bem com excepção da prancha 3, que é também aquela prancha que sofreu mais alterações relativamente ao modo como eu tinha concebido a sequência. O texto estava planeado para ser colocado numa prancha com outra disposição das vinhetas, e colocado no topo ficava um bocado inestético, a prancha ficava desequilibrada com o texto contando logo o que se passava nas vinhetas subsequentes.
Ao colocar o texto entre as vinhetas a prancha ficou mais equilibrada e manteve o mesmo ritmo narrativo das pranchas anteriores.
A primeira frase ter desparecido foi uma das opções unilaterais da Daniela, que resultam e, com as quais não me importei minimamente.
O contraste dos cinzentos foi alterado devido a uma preocupação técnica e não por uma questão de estética. Contudo acabou por ter um agradável efeito visual. Devido ao tons de cinzento serem muito escuros, temia que quando a história fosse impressa eles poderiam transformar-se em manchas de preto cobrindo o traço. É que a impressão não seria feita de um modo que pudesse assegurar a fidelidade das pequenas variações de tonalidade.
Eduarda, e outros álbuns, de Miguel Rocha não reflectiam a qualidade do trabalho gráfico das pranchas originais, devido às variações dos tons de cinzento terem virado simples manchas uniformes quando impressos. Quem viu os originais do Miguel Rocha expostos pôde verificar como o trabalho dele sofreu com a impressão. Não podendo ter uma impressão que assegure uma fiel reprodução das tonalidades da pintura (manual ou digital) o melhor é utilizar tramas, mas isso já era estar a pedir um bocadinho demais, uma vez que implicava um trabalho adicional, alterando também o resultado final a nível do ambiente criado e originalmente pensado.
Na versão impressa de "Um Dia" os tons de cinzento acabaram por ficar quase com a mesma tonalidade que estava originalmente pensada.
Estas pequenas afinações, que esta e outras histórias sofreram, podem ser consideradas desnecessárias para algo que é feito para um fanzine, mas eu gosto de encarar o trabalho que faço com o máximo de profissionalismo possível, mesmo que seja em algo feito por prazer para um pequeno fanzine.
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